Uma das regiões mais ricas em rios e lagos do Maranhão pede socorro. A Baixada Maranhense, conhecida por seus campos alagados, está vivendo uma das piores secas já testemunhadas por seus moradores em mais de 30 anos. Rios perenes e caudalosos, como o Turiaçu, Pericumã e Paruá, hoje, em alguns pontos, são apenas filetes, se comparados aos quilômetros de largura que alcançam na época das cheias.
Área cuja maior característica são os rios e lagos, sofre; peixes estão morrendo esturricados e outros tantos sendo remanejados para lagos artificiais.
Na região, a imagem que se vê por todos os campos, outrora alagados, é sempre a mesma: vários e vários quilômetros a perder de vista de planícies esturricadas intercaladas por manadas de bois, que comem o que resta da grama cinza, barcos e mais barcos parados, emborcados em terra, e aqui e ali alguns bolsões de água e fios dos rios que teimam em seguir seu caminho.
E toda esta situação tem contribuído para que toneladas de peixes, que são a principal fonte de renda e subsistência da população local, morram sufocadas em lamaçais e expostas ao sol forte típico da região, com temperaturas médias de 30ºC. Os pescadores só lamentam que não possam fazer muita coisa, apenas observar. “Dá muita tristeza ver o peixe escumando e morrendo”, ressalta Antônio José, de 39 anos, que morava numa ilha, às margens do Rio Paruá.
Morava, porque desde outubro, com o início do período da seca, sua ilha virou apenas um montinho em meio às vastas planícies. Sentado em sua rede, ele olha ao longe os filetes de água e revela que já fez até uma pequena plantação, de milho e mandioca, para tentar passar o período do defeso, mas que espera pacientemente a chuva para que as sementes comecem a brotar.
De acordo com a professora doutora Zulimar Marita Ribeiro Rodrigues, a Baixada Maranhense é uma importante região do estado do Maranhão, onde as belezas naturais e recursos socioeconômicos demonstram sua singularidade e valor. A região compreende 23 municípios e sua principal característica são os campos inundáveis de água doce, que recebem a influência das marés, durante boa parte do ano.
Daí que, nos períodos de janeiro a junho, época chuvosa, os campos geralmente são cheios, com os rios largos e milhares de lagos e lagoas onde borbulha a vida. Nos períodos de estiagem, os campos começam a secar, mas, mesmo assim, há vários anos que este período não durava tanto tempo.
Diques da Baixada Já
A fim de dirimir eventuais dúvidas acerca da importância do projeto Diques da Baixada Maranhense, Alexandre Abreu, engenheiro civil e membro destacado do Fórum em Defesa da Baixada Maranhense, escreveu este esclarecedor artigo.
O projeto Diques da Baixada prevê a construção de 71 quilômetros de diques, abrangendo os municípios de Viana, Matinha, São João Batista, São Vicente Férrer, Cajapió, São Bento e Bacurituba. A obra consiste em um sistema de diques e vertedouros, em sentido paralelo à margem da baía de São Marcos. Quem conhece bem a realidade social da Baixada sabe do grande alcance social e do impacto positivo desse projeto para a nossa microrregião. Sem exagero, ele representa a redenção dos municípios abrangidos, com melhoria imediata no IDH da população rural beneficiada.
Os objetivos fundamentais do Sistema de Diques da Baixada são: a) proteção das áreas baixas contra a entrada de água salgada pelos igarapés, decorrente das variações da maré, protegendo assim os ecossistemas e os mananciais de água dessa região; b) contenção e armazenamento de água doce nos campos naturais durante a estação chuvosa, retardando assim o escoamento para o mar, sem alterar, no entanto, as cotas máximas naturais de inundação; e c) aumentar a oferta da disponibilidade hídrica em boas condições durante o ano, para usos múltiplos.
O material a ser usado nessa construção é basicamente barro do campo que será retirado ao longo do caminhamento da construção. Serão utilizados também a piçarra para a crista da barragem e o concreto para a construção dos vertedouros.
Serão construídos 23 vertedouros que permitirão o controle da lamina d´água, bem como a velocidade do escoamento das águas do campo. Com a retirada do material ao longo da construção para a execução dos diques, será criado um canal de aproximadamente 1,5m de profundidade e largura variando de 30 a 40m, que acompanhará toda a extensão da construção, permitindo o tráfego de pequenas embarcações (canoas etc) além de servir como reservatório de água doce, propiciando a pesca de peixes nativos durante todo o ano.
Os campos da Baixada não ficarão permanentemente cheios. O ciclo existente hoje será preservado, os campos continuarão possuindo a época da cheia e a época de seca, apenas o ciclo de cheia se prolongará por mais tempo beneficiando toda a região.
Com a construção dos diques, o SEBRAE pretende desenvolver arranjos produtivos para favorecer a agricultura familiar, pecuária, piscicultura, pequenas criações, além de inúmeras outras oportunidades para melhorar a vida dos moradores que serão diretamente beneficiados.
Veja maiores informações sobre o Projeto Diques da Baixada.
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